Sentir-se com os olhos vendados, sendo obrigado a percorrer um caminho com obstáculos, sujeito a humilhações. Assim se sente quem é vitima de bullying.
Intencionalmente em ações repetitivas, quando o agressor e o agredido tem o mesmo nível hierárquico - ao contrário do assédio moral, de diferentes níveis - o bullying acontece quando uma pessoa ou grupo exerce violência física ou psicológica sobre a outra, magoando-a, ridicularizando-a.
Lembro-me, nos anos 80, de sofrer bullying, o que na época chamavam de "brincadeirinha". Nova na cidade, vinda de um outro local de cultura bem diferente, inclusive de sotaque. Na escola, alguns colegas não perdoaram meu "jeito esquisito", as boas notas e a vontade pelos estudos. Esse é o tipo de coisa que, infelizmente, jamais esquecemos. Por sorte, algum tempo depois, nos mudamos para outra cidade que nos acolheu bem.
Mas as marcas ficam feito uma tatuagem que não sai mais. Toda vez que tenho que voltar àquela cidade, pois por ironia minha melhor amiga mora lá, me sinto de novo com a venda nos olhos, um pouco perdida e com vontade de sair dali.
Atualmente, muitas campanhas de esclarecimento, as redes sociais difundidas, e até fotos e vídeos que podemos fazer por celular, ajudam a esclarecer e denunciar. Mas ao mesmo tempo, com a tecnologia, também apareceu uma nova forma de humilhação, o cyberbullying, através de sites, e-mails, torpedos, enfim, o uso de espaços virtuais para humilhar a vitima.
Ideal seria, se o ser humano respeitasse o diferente. Não precisasse humilhar, tirar vantagens, se sobrepor num grupo. A faceta homem das cavernas está ainda presente na sociedade, o grotesco e rústico mundo da violência. Onde colocar venda nos olhos dos outros é bonitinho.
Para quem é privado resta a família, os amigos e, principalmente, a si mesmo. Sendo seu melhor amigo, denunciando, pedindo ajuda: única maneira de enfrentar o problema. Tirar por fim a venda dos olhos e dizer com orgulho: agora enxergo o caminho.
Ana Cecília Romeu
Publicitária e escritora
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